quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ARTRITE REUMATÓIDE


  




Atualmente, considera-se que a artrite reumatóide é uma doença auto-imune, ou seja, é uma doença provocada por uma reacção anómala do sistema imunitário, que produz anticorpos contra os tecidos do próprio organismo, como se estes fossem agentes estranhos. Neste caso, os anticorpos anómalos atacam vários componentes das articulações e também de outras estruturas orgânicas, o que favorece a formação de compostos denominados imunocomplexos, cuja acumulação provoca uma reacção inflamatória.
Numa fase inicial, a doença costuma provocar uma sinovite, ou seja, uma inflamação do tecido que reveste o interior da cápsula articular. Com o decorrer do tempo, a contínua inflamação do tecido sinovial faz com que este fique mais espesso, o que propicia a formação de uma espécie de tecido cicatricial, denominado pannus, que ao crescer no interior da articulação tem tendência para revestir a cartilagem articular.
Caso a evolução da doença não seja travada, o dito tecido atípico acaba por destruir, ao fim de vários anos, a cartilagem articular e as extremidades ósseas adjacentes a essa articulação, o que origina as deformações características da artrite reumatóide.
Embora a causa que desencadeia esta reacção anómala do sistema imunitário ainda não seja conhecida, acredita-se que possa estar relacionada com factores genéticos, na medida em que a artrite reumatóide tem uma incidência muito mais elevada entre os membros de algumas famílias do que na população em geral. Apesar de alguns investigadores afirmarem que existe um factor precipitante (por exemplo, uma infecção viral) que actua sobre essa condicionante genética, até ao momento ainda não foi possível identificar nenhuma causa que explique esta súbita reacção anómala do sistema imunitário.

Manifestações

A artrite reumatóide caracteriza-se por provocar manifestações locais e gerais e por serem muito distintas. De facto, embora por vezes se evidencie através de sinais e sintomas pouco específicos, como mal-estar, cansaço, dores difusas e febre moderada, que precedem os sinais e sintomas ao nível das articulações, noutras ocasiões costuma manifestar-se por uma súbita inflamação articular. Para além disso, os sinais e sintomas ao nível das articulações tanto podem apresentar-se de forma repentina, manifestando-se ao fim de poucos dias, como de forma lenta, evidenciando-se apenas ao fim de vários meses.
O sintoma mais típico é a dor, de maior ou menor intensidade consoante o caso, que se costuma evidenciar de forma alternada em v árias articulações. Embora a dor tenha a tendência para ir progressivamente aumentando, em alguns casos, diminui ao fim de um certo período de tempo, após o qual volta a reaparecer, acentuando-se nos períodos em que a doença é mais intensa.
Apesar de, na maioria dos casos, as articulações afectadas ficarem tumefactas, inchadas e quentes, por vezes, a pele que as reveste não fica vermelha, ao contrário do que acontece com outras formas de artrite. A tumefacção é, normalmente, muito evidente nas articulações pequenas, como as da mão, enquanto que nas articulações grandes, como a do joelho, por vezes se produz um derrame que provoca um edema acentuado. Em alguns casos, o alastramento da inflamação às estruturas que rodeiam a articulação afectada provoca uma debilitação dos ligamentos, tendões e músculos adjacentes.
Um outro sinal típico é a rigidez articular, uma sensação específica de dificuldade em efectuar movimentos que envolvam as articulações afectadas, manifestando-se essencialmente após o repouso nocturno e diminuindo ao longo do dia.
À medida que a doença vai evoluindo, vai provocando uma característica debilidade dos músculos periarticulares, devido às lesões inflamatórias e à falta de exercício consequente da limitação dos movimentos provocada pela doença. Nas fases mais avançadas da doença, costumam surgir deformações mais ou menos evidentes das articulações afectadas, o que pode provocar uma deterioração do seu funcionamento e, nos casos mais graves, conduzir à invalidez.

Evolução e prognóstico

Embora a artrite reumatóide, por vezes, se cure de forma espontânea, sobretudo no primeiro ano, a doença tem, na maioria dos casos, uma evolução crónica que se caracteriza por períodos em que os sinais e sintomas são mais intensos alternados com outros em que as manifestações são mais ténues. A medida que a artrite vai evoluindo, as lesões vão-se tornando persistentes, o que propicia, por vezes, a deformação das articulações envolvidas. Por exemplo, é bastante comum que os quatro últimos dedos das mãos se virem em direcção oposta ao polegar (em direcção ao cúbito) e que as articulações interfalângicas proximais fiquem permanentemente flectidas, enquanto que as interfalângicas distais se mantêm persistentemente estendidas, o que origina os dedos em ziguezague. Os pulsos têm tendência para ficarem flectidos, tal como os cotovelos, enquanto que as alterações nas articulações dos ombros impedem a correcta separação dos braços do tronco. Os pés também costumam ser afectados por deformações e desvios típicos dos dedos, nomeadamente através de uma evidente submersão do arco plantar, enquanto que os joelhos têm a tendência para ficarem flectidos, à semelhança do que acontece com as ancas nas fases avançadas da doença.
Embora todas as deformações descritas provoquem um certo grau de incapacidade no funcionamento das articulações, nos casos mais graves, esta incapacidade pode evoluir para invalidez. Apesar de não ser possível determinar as possíveis consequências da evolução da doença, de caso para caso, normalmente calcula-se que ao fim de dez anos de evolução a doença provoca invalidez em cerca de 10% dos casos e consideráveis limitações em cerca de 25%, enquanto que o resto dos indivíduos afectados permanecem com uma capacidade de funcionamento das articulações normal ou com um grau de incapacidade tão reduzido que não é impeditivo da realização das suas actividades habituais.

Tratamento

Como a origem da artrite reumatóide ainda não é exactamente conhecida, não existe nenhum tratamento capaz de curar a doença. Todavia, existem vários recursos para aliviar os sinais e sintomas e, sobretudo, para tentar travar a evolução da doença, de modo a prevenir as deformações nas articulações e a eventual invalidez, nos casos mais graves.
Entre as medidas terapêuticas mais importantes, destaca-se o repouso, com algumas combinações. Nos períodos de maior intensidade dos sinais e sintomas e especialmente quando existe um grande mal-estar, costuma ser necessário manter um certo repouso, mas quando se produz uma melhoria é preferível que o paciente se levante e tente manter as suas actividades habituais consoante o seu estado o permita. De qualquer forma, na maioria dos casos, é recomendável um bom repouso nocturno, no mínimo oito horas e de preferência dez, e também alguns períodos de descanso ao longo do dia. Por outro lado, convém exercitar as articulações afectadas, para que estas não percam a sua funcionalidade e para prevenir uma eventual rigidez e deformação, sendo por isso que o médico deve determinar, para cada caso específico, um programa de exercícios complementado, sempre que for oportuno, com as medidas de fisioterapia mais adequadas às necessidades de cada paciente.
Para além disso, na maioria dos casos, costuma-se recorrer à administração de vários tipos de anti-inflamatórios, para aliviar os sinais e sintomas, e à utilização de sais de ouro administrados através de injecções e de medicamentos como a d-penicilamina, antipalúdicos e imunossupressores, com vista a travar a evolução da doença, ou até tentar diminuir a intensidade dos sinais e sintomas. Dado que todos estes medicamentos têm inúmeros efeitos adversos e como a sua eficácia, em cada caso específico, não pode ser determinada à partida, deve-se experimentar a sua utilização para comprovar os seus efeitos e para alterar, sempre que for necessário, o tratamento. Isto porque, dada a sua complexidade, é importante que haja uma estreita comunicação entre o médico e o paciente, bem como a ida a consultas regulares que permitam determinar a resposta do organismo aos medicamentos em causa, a evolução da doença e também a detecção de eventuais complicações que exijam outras medidas.
Por fim, nas fases avançadas da doença, sempre que se produzam de formações articulares significativas que provoquem invalidez, pode-se recorrer a tratamentos ortopédicos e à cirurgia. Por vezes, são intervenções correctivas que permitem o alívio das dores ou atenuar uma insuficiência no funcionamento de alguma articulação afectada; noutros casos, as intervenções cirúrgicas visam solucionar alguma insuficiência no funcionamento de uma articulação, como acontece, por exemplo, com a substituição da articulação da anca por uma prótese.

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